26/03/07

| contracepção - os diversos métodos anticonceptivos

Existem disponíveis hoje no mercado vários métodos anticonceptivos. O objectivo deste artigo é o de familiarizar os casais com os diversos produtos existentes no mercado nacional sendo que a escolha final dependerá sempre da sua preferência, após discussão com o seu médico assistente.
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A contracepção pode efectuar-se das formas a seguir descritas.
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contracepção hormonal oral
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Existem dois tipos fundamentais:
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A pílula combinada que associa estrogéneos e progestagéneos e previne a ovulação.
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Disponíveis dois tipos de embalagens:
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- As de 21 comprimidos que deverão ser tomadas durante 21 dias, abstendo-se a sua toma nos sete dias seguintes para permitir a ocorrência da menstruação, reiniciando-se a sua toma ao 29º dia, e assim sucessivamente;
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- As de 28 comprimidos que deverão ser tomadas sem interrupção, mais apropriadas a quem tem receio de se enganar a fazer as contas aos dias do mês.
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A mini-pílula, ou pílula progestagénea, sem estrogéneo, com eficácia sobreponível à anterior, desde que tomada com regularidade, e a sempre à mesma hora. É indicada no período de aleitamento materno, durante a fase precoce da menopausa, ou em mulheres com contra-indicações à toma de estrogénios. Deve ser tomada ininterruptamente e pode originar ausência de fluxo menstrual durante a sua toma, o que pode ser desconfortável para a mulher que assim deixa de poder contar com o aparecimento do período como sinal de ausência de gravidez.
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contracepção hormonal injectável
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Consiste na administração de uma injecção com um progestagéneo com intervalos de três meses. Eficaz ao fim de 24 horas, pode, no entanto, originar ausência do fluxo menstrual. De efeito reversível apenas ao fim de alguns meses para retomar ovulação e ciclos menstruais normais.
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contracepção hormonal – implantes
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Consiste num implante, colocado cirurgicamente no braço, que vai libertando gradualmente doses de um progestagéneo. Eficaz, tem duração de três anos. Necessita de nova intervenção cirúrgica para retirar o implante ao fim de três anos. Consiste numa pequena cirurgia, feita em minutos, com anestesia local. Mal é retirado o implante, o nível de fertilidade volta ao normal.
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contracepção hormonal – o anel vaginal
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Último método a aparecer no mercado nacional. O anel vaginal consiste num anel de plástico flexível (5cm de diâmetro e 4mm de espessura) que é introduzido no fundo da vagina durante três semanas, período durante o qual vai libertando hormonas, semelhantes às que entram na constituição das pílulas combinadas referidas anteriormente. Ao fim das três semanas, o anel deverá ser retirado e deixar-se decorrer uma semana para que ocorra a menstruação. Ao fim de sete dias, à semelhança das pílulas combinadas, dever-se-á introduzir novo anel por mais três semanas e assim sucessivamente. A posição do anel no interior da vagina não é fundamental para que ocorra o efeito contraceptivo desejado. Esta apenas deverá depender do conforto da mulher. Não é necessário ser retirado durante o acto sexual mas, caso prefira fazê-lo, o anel nunca deverá estar fora da vagina por um período de tempo superior a três horas.
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contracepção hormonal – o adesivo transdérmico
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O adesivo é um contraceptivo em forma de autocolante com a mesma eficácia da pílula e o mesmo modo de actuação. É aplicado em cima da pele e não tem a inconveniência dos habituais esquecimentos. É um adesivo que liberta hormonas através da pele. Estas entram na corrente sanguínea, impedindo a ovulação. Coloca-se durante três semanas consecutivas e, tal como na pílula, descansa-se na quarta semana, quando se dará a hemorragia de privação. Pode ser colocado e retirado quando se quiser. Quando se retira termina a protecção contraceptiva e pode haver uma hemorragia. Este adesivo pode ser colocado nas nádegas, no abdómen, no dorso superior ou no antebraço. Quanto aos efeitos secundários, são os mesmos que a pílula apresenta. Só pode ser adquirido mediante prescrição médica.
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dispositivo intra-uterino (DIU)
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Existem dois tipos de DIUs:
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- os DIUs com cobre;
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- os DIUs com progestagéneo.
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Ambos interferem na fertilização do óvulo pelo espermatozóide, impedindo assim a gravidez. São colocados pelo médico e têm eficácia durante cinco anos, após os quais deverão ser removidos também por um médico e colocado um novo, caso a mulher mantenha desejo de permanecer com DIUs.
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Os DIUs de cobre não são aconselhados a mulheres que tenham alergia ao cobre, que tenham fluxos menstruais abundantes, ou menstruações dolorosas, antecedentes de infecções pélvicas recorrentes, défices imunitários (infecção a HIV, por exemplo), ou que tenham múltiplos parceiros sexuais.
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Os DIUs com progestagéneo podem ser uma óptima opção para as mulheres com fluxos menstruais abundantes e menstruações dolorosas pois o progestagéneo não só pode originar períodos de ausência do fluxo menstrual como alivia as dores menstruais.
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métodos de barreira
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Em Portugal actualmente apenas existe o preservativo masculino. É o único método eficaz contra a transmissão das doenças transmitidas sexualmente (DTS), nomeadamente a hepatite B, hepatite C e HIV (vírus que origina a SIDA). Deve ser colocado no pénis apenas quando este estiver em erecção e não deverá em hipótese alguma ser reutilizado.
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espermicidas
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Podem ser encontrados em forma de cremes, sprays, geleias, óvulos e esponjas cervicais. É introduzido na entrada do cólo do útero, e deve ser aplicado cinco a dez minutos antes do acto sexual genital, excepto as esponjas / tampão contraceptivo que podem ser inseridas horas antes. É um método contraceptivo que age quimicamente inactivando o esperma. Os efeitos indesejáveis conhecidos prendem-se com a possibilidade de causarem alergias.
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É um método pouco seguro que deve ser usado em combinação com outros métodos contraceptivos. Tem pouca protecção em relação às DTS.
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by Dr. Gonçalo Melo in Jornal do Centro de Saúde 08 Junho 2006

| uma viagem à disfunção sexual do «sexo fraco»

AUSÊNCIA DE DESEJO, DE ORGASMO, VAGINISMO... As disfunções sexuais no sexo feminino são um tema pouco abordado e constituem factor de «complexo» para a mulher. No entanto, com o acompanhamento adequado, podem ser ultrapassadas. Há três tipos mais frequentes de disfunção sexual: o desejo sexual hipoactivo, que se caracteriza pela falta de desejo sexual; a anorgasmia, que se reflecte na ausência de orgasmo, e o vaginismo, que se caracteriza pela contracção involuntária dos músculos de entrada da vagina, provocando dor aquando da penetração ou impedindo-a. Segundo o Dr. José Pacheco, sexólogo do Hospital de Júlio de Matos, «este é o tipo de disfunção sexual que causa mais vergonha na mulher».
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Mas há outros tipos de disfunção sexual que podem afectá-la. A fobia sexual é caracterizada pelo evitar de uma actividade sexual, que envolve sentimentos de repulsa, ansiedade e medo. Existe também a disfunção da excitação sexual, que é a incapacidade persistente ou recorrente em adquirir ou manter a lubrificação vaginal até o final do acto sexual. A mulher nesta situação tem pouca ou nenhuma sensação de excitação.
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Normalmente, existe uma «dessincronia entre o que acontece psicológica e fisicamente, sendo que a mulher pode estar excitada, mas não ter lubrificação suficiente que permita a penetração, ou pode acontecer o contrário, a mulher pode ter lubrificação, mas não se sente excitada», afirma o especialista.
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As consequências são, sobretudo, psicológicas: a mulher que padece de disfunção sexual sente-se muitas vezes diminuída, embaraçada e envergonhada, e o problema pode afectar a vida do casal.
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«A anorgasmia e o vaginismo são mais graves do ponto de vista psicológico, já que a mulher sente-se diminuída, sente que lhe falta qualquer coisa, enquanto a falta de desejo afecta sobretudo o casal», frisa o sexólogo. As disfunções sexuais masculinas e femininas são vividas de modo diferente.
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«A mulher associa o problema à qualidade da relação», diz o especialista. Para o homem o problema é mais pesado, já que este «assume a responsabilidade pelo prazer da mulher durante a relação sexual». Além deste factor, o sexo masculino não associa a disfunção à relação, «considera-o como um factor independente», observa o especialista, continuando: «Se o homem não tem erecção, sempre verá o problema como algo independente da relação e até de outras coisas como de doenças que possa ter ou ainda de factores como a idade.»
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causas e tratamentos
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As causas das disfunções sexuais na mulher podem derivar de factores psicológicos ou físicos. Os primeiros estão relacionados com estados depressivos ou ansiosos e os físicos têm a ver com doenças crónicas ou hormonais, por exemplo. Segundo José Pacheco, «patologias como a diabetes ou a incontinência urinária ou ainda problemas relacionados com a tiróide podem interferir na sexualidade da mulher».
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«O vaginismo (dor que dificulta ou impede a penetração) pode também ser causado por uma infecção prolongada que não tenha sido tratada», esclarece o nosso interlocutor, a título de exemplo. E afirma: «A própria relação com o parceiro pode interferir na vivência e experiência das relações sexuais.» As relações conflituosas ou que de alguma forma não satisfaçam a mulher, por exemplo, podem fazer com que esta não se sinta satisfeita sexualmente. Porém, com o acompanhamento adequado, as disfunções sexuais podem ser ultrapassadas.
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O diagnóstico passa pela realização de um estudo prévio e pela detecção das causas da disfunção, sejam psicológicas ou de natureza física, para, em função delas, elaborar-se um plano terapêutico. Esta terapêutica implica o tratamento das doenças físicas e dos problemas psíquicos que provocam a disfunção. Na anorgasmia e vaginismo utilizam-se, regra geral, métodos de base psicoterapêutica, que consistem na minimização do medo de sentir dor, que está na maioria das vezes por detrás daquelas disfunções. «Incitamos a paciente a descontrair-se, de modo a aliviar e enfrentar o medo», sublinha José Pacheco.
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in Medicina & Saúde 01 Março 2005

22/03/07

| a impotência é reversível

Verifica-se hoje na sociedade um interesse cada vez maior das pessoas pelos assuntos ligados à saúde, quer seja por necessidade quer por simples curiosidade.
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Considero muito positivo este interesse e tenho procurado com a equipa que dirijo na Clínica Harmonia, dedicada ao exercício clínico nas áreas da Impotência e Infertilidade colaborar na divulgação de informação e conhecimento nestas áreas.
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Também para os profissionais de saúde existe pouca literatura disponível, que lhes possibilite, de forma simples e sistematizada, uma informação genérica e concisa sobre diversas áreas. Destas, a Impotência é certamente das que se encontra menos documentada em língua Portuguesa.
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“A Impotência é reversível” surge assim como um contributo para minorar um pouco essa falta de informação.Porque se trata de um tema complexo, em que as disfunções são muito traumatizantes e dizem respeito à intimidade de cada um, porque não há informação organizada e global à disposição do grande público e ainda porque a bibliografia e referências para os profissionais de saúde são manifestamente insuficientes.
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Os autores decidiram editar um livro acessível à generalidade dos leitores e compatível com a leitura por profissionais de saúde, nomeadamente os médicos.
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A convivência em eventos internacionais com especialistas nesta área permitiu criar e desenvolver relações especiais com alguns deles, nomeadamente com o Dr. Steven Wilson, cirurgião- andrologista de renome mundial. A confiança mútua estabelecida entre ambos viabilizou a realização desta obra conjunta agora editada em Portugal. O objectivo é fornecer aos leitores instrumentos que lhes permitam entender melhor a função e disfunção erécteis assim como as propostas terapêuticas que lhe possam sem apresentadas, podendo assim facilitar o diálogo sobre o tema com o seu médico assistente e ajudando a tomada de decisões quanto á recuperação e restauração de uma vida feliz.
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Se este livro conseguir esse objectivo, terão sido completamente satisfeitas as expectativas que levaram à sua edição.
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by Dr. José Pereira da Silva in Clínica Harmonia 16 Fevereiro 2005

| um problema para resolver a dois

Se você é um dos 500.000 homens em Portugal, com problemas de erecção (referida pelos médicos como Disfunção Eréctil – D.E.), é provável que sinta também stress emocional ou problemas no seu relacionamento, especialmente se ainda não partilhou o problema com ninguém.
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será que você é o único com problemas de erecção?

Não, o seu caso não é único. À medida que vai envelhecendo, poderá sentir cada vez mais dificuldade em obter erecções adequadas com frequência e rapidez que gostaria. No entanto, as dificuldades com a função eréctil constituem um problema comum – vários homens com mais de 40 anos de idade, em dada altura das suas vidas, sentem dificuldades a nível sexual (1). A D.E. pode ser causada por vários factores, tais como:
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Problemas de saúde que restringem o fluxo sanguíneo (por exemplo, diabetes, doença cardíaca, hipercolesterolemia e hipertensão arterial);

- desequilíbrio hormonal;

- depressão;

- protatectomia;

- efeitos secundários de alguns medicamentos;

- hábitos e opções de estilo de vida tais como tabagismo e consumo excessivo de bebidas alcoólicas.

o que poderei fazer para seleccionar o problema?

Presentemente, existem tratamentos eficazes de utilizar, que actuam de forma rápida e fiável, ajudando-o a recuperar com confiança a sua vida sexual. Se sente dificuldades em obter e manter uma erecção durante a relação sexual – mesmo que esta situação não seja frequente – deverá consultar o seu médico. Uma percentagem muito elevada de homens demora demasiado tempo a procurar ajuda. Alguns tentem descobrir as causas do problema sem recorrer a ajuda médica. Outros, temem que as dificuldades de erecção se encontrem associadas a outros problemas mais graves. Há ainda homens que crêem que o seu problema de erecção não constitui uma perturbação real de saúde. No entanto, trata-se de um problema médico legítimo, pelo qual é possível fazer alguma coisa. É, assim, muito importante compreender o que se passa, aceitar que existe um problema, conversar com o seu médico sobre as eventuais causas e acordar sobre uma possível solução.Entretanto, pondere falar com a sua companheira sobre o modo como o problema está a afectá-lo, a si, e ao vosso relacionamento.

porque tenho dificuldade em falar sobre este problema com a minha companheira?

Para muitos homens, o aspecto mais difícil é conseguir ter a confiança necessária para partilhar às suas companheiras. Muitos homens dizem sentir embaraço, frustração, nervosismo e depressão – sentimentos que, provavelmente, também sente. A sua companheira poderá hesitar em falar consigo por receio de invadir a sua privacidade. Assim, embora o deseje, ela poderá estar mais preocupada em não ferir os seus sentimentos. Não falar sobre o problema pode, contudo, piorar a situação.

deverei falar com a minha companheira sobre o assunto?

Sim, pondere a hipótese de conversar com a sua companheira. As investigações realizadas demonstram que, na relação do casal, o sexo é tão importante para as mulheres como para os homens. É provável que a sua situação seja tão embaraçosa para ela como para si, sendo até possível que ela se sinta culpada. Por isso fale com ela e mostre-lhe que ninguém é culpado, fazendo-a ver que pretende encontrar uma solução que funcione para ambos.

porque razão sinto dificuldade em falar com o meu médico?

É sempre difícil falar sobre este tipo de problema. A ideia fá-lo sentir-se nervoso, embaraçado ou ansioso. Poderá inclusive temer que o seu médico não o leve a sério, não respeite os seus sentimentos ou não o consiga ajudar. Está preparado para o ajudar a enfrentar o problema, possui um vasto conhecimento sobre o assunto e poderá encontrar a solução mais apropriada para o seu caso.

Um problema partilhado é um problema resolvido.

Conversar sobre os problemas de erecção pode ajudar. Os homens que tiveram oportunidade de falar sobre o seu problema sentiram-se aliviados e, mais importante ainda, esperançosos na resolução do problema. Portanto, ganhe coragem. Fale dos seus problemas com o seu médico.

(1) – Feldman HÁ, Goldstein I, Hatzichristou D G e col. Impotence and its medical and psychological correlates: Results of the Massachusetts Male Ageing Study. J Urol, 1994; 151:54-61
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in Amor Vital 30 Dezembro 2006

| impotência sexual: corre riscos?

A disfunção eréctil (DE) é uma das causas de disfunção sexual mas não a única. A DE, mais vulgarmente designada por impotência sexual, “define-se como uma incapacidade para iniciar ou manter uma erecção com rigidez suficiente para proporcionar uma relação sexual satisfatória para ambos” como nos explica em entrevista o Presidente da Associação Portuguesa de Urologia (APU), Dr. Francisco Rolo, no dia europeu da disfunção sexual, comemorado a 14 de Fevereiro. Saiba mais sobre os factores de risco e sobre como prevenir a DE.
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quais os principais factores de risco de disfunção eréctil (DE)?
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Podemos dividi-los entre os não modificáveis e os modificáveis. Nos primeiros, surge, em primeiro lugar, a idade. Não sendo um factor determinante, visto que a actividade sexual pode manter-se mesmo em idades muito avançadas, é contudo importante na medida em que a prevalência da DE está estatisticamente relacionada com a idade. Outros factores não modificáveis que podem provocar DE são a cirurgia (prostática e colo-rectal) e os traumatismos vertebro-medulares. Existem também doenças neurológicas como a esclerose múltipla e amiloidose (doença dos pezinhos) que podem provocar DE. Há depois os factores de risco modificáveis. E é aqui, logicamente, que a nossa actuação pode ter uma influência benéfica. A diabetes é um dos principais. O tempo da doença e a forma como foi controlada são importantes para o aparecimento da DE. As dislipidémias, a obesidade, nomeadamente a obesidade visceral, e a hipertensão arterial são factores que devem obrigatoriamente ser investigados e tratados numa consulta de DE.
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Falta ainda analisar um outro componente que, estando invariavelmente presente, pode ter maior ou menor importância. Refiro-me à parte psíquica, a qual interfere com a estrutura psíquica do indivíduo criando ansiedade, estados depressivos, dificultando o envolvimento emocional, enfim tornando tudo ainda mais difícil.
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o stress e os problemas psicológicos podem contribuir para a DE?
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As situações de stress alteram de um modo geral a vida sexual do casal. Em algumas situações podem mesmo provocar disfunção eréctil. A falta de tempo, a ansiedade, o nervosismo não facilitam nada a vida sexual, quer do homem, quer da mulher. Mas, no que respeita ao homem, todas as situações que possam estar associadas ao estímulo do sistema nervoso simpático são inibidoras da erecção. Quando, ainda por cima, o indivíduo tem já alguns factores predisponentes, ou é uma pessoa jovem, e insegura, carregando o histórico de algumas situações em que as coisas não correram tão bem, o mais certo é as dificuldades permanecerem. De um modo geral, as disfunções sexuais em indivíduos abaixo dos 35 anos têm como etiologia principal factores psicológicos.
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em caso de disfunção sexual a quem deve o paciente recorrer?
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Para a grande maioria dos doentes o mais fácil será recorrer ao médico de família. É necessário avaliar todos os factores de risco, corrigir alterações metabólicas, estabelecer metas na correcção do peso e do perímetro abdominal. Interferir na vida socioprofissional e familiar de modo a combater o stress, tabagismo, sedentarismo. Claro que, frequentemente, poderá ser necessária a intervenção de um sexólogo nomeadamente quando estamos perante uma disfunção sexual num adulto jovem, ou de um urologista quando como acontece em cerca de 30% das situações de DE.
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A felicidade e o bem-estar do casal passa por uma vida sexual “resolvida” que não quer dizer activa, ou não activa, mas falada, conversada e o médico de família tem aqui muitas vezes um papel importante.
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by Ana Sofia Tomás in Jornal do Centro de Saúde 21 Março 2007

15/03/07

| quando a depressão deprime a vida sexual

Desde tempos longínquos que a relação entre depressão e sexualidade se estabelece. A velha melancolia dos Gregos era uma síndrome clínica que envolvia uma tristeza profunda e que interferia com toda a vida do indivíduo, principalmente com o seu comportamento sexual.
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«A perda dos interesses e de actividades com prazer, que caracterizam a depressão, inclui o interesse e o prazer sexual, nomeadamente, em homens com disfunção eréctil», explica o Prof. António Palha, director do Serviço de Psiquiatria do Hospital de S. João. Deste modo, podemos afirmar que homens com disfunção eréctil (DE) podem sofrer de depressão, sendo o inverso também correcto. «Os homens com problemas de erecção sentem-se progressivamente abatidos no seu humor, chegando a atingir um nível de sofrimento semelhante ao quadro depressivo.» De facto, a perda de erecção é uma condição física que mais atinge a auto-estima e a segurança masculinas, podendo desencadear o tal sofrimento depressivo ou ser um dos primeiros sinais indicadores da existência de uma depressão já instalada.

«Num jovem, a DE é quase sempre psicógena, particularmente se a depressão está presente. Isso significa que se deve tratar, pois, os “bons” conselhos dos amigos (as) não chegam. As depressões são entidades clínicas que devem ser valorizadas quando mascaradas (depressões mascaradas) por sintomas físicos, como é o caso da DE. A visita a um psiquiatra (sexologista, ou não) pode ser a primeira etapa para uma rápida reversão da depressão e da DE. Há excelentes fármacos para a depressão, bem como para a DE, mas estes não dispensam a orientação psicológica e o conselho sexológico que é necessário nestas condições clínicas de co-morbilidade», adverte António Palha, acrescentando: «Aceita-se, também, que estilos de vida desgastantes com uso/abuso de álcool, fármacos e drogas possam facilitar a instalação desta penosa perturbação no homem. O stress do dia-a-dia e a perda de capacidade de sonhar e fantasiar pelo excesso de preocupações com as obrigações diárias também contribui para a situação clínica que estamos a tratar.»

depressão e DE de mãos dadas

A procura do conselho médico no caso da depressão ou da disfunção eréctil tem vindo a aumentar com a melhoria dos cuidados de saúde, nomeadamente, a nível dos cuidados primários. Dada a falta de estudos epidemiológicos na área da Psiquiatria e Saúde Mental relativos à população portuguesa, não há números válidos da prevalência destas duas situações clínicas. No entanto, sabe-se, em termos de prática clínica, que «estas duas patologias aumentam com a idade e há estudos parcelares que mostram que a DE poderá atingir 40% dos homens, aos 50 anos, e 67%, por volta dos 70 anos», afirma António Palha. De acordo com o relatório da Organização Mundial de Saúde de 2001, dedicado à Saúde Mental no Mundo, a depressão constitui a primeira causa de anos vividos com incapacidade, atingindo uma faixa etária mais alargada (dos 15 aos 44 anos de idade). Se pensarmos que as depressões também deprimem a vida sexual, «podemos prever que, com as actuais dificuldades socioeconómicas e profissionais, este factor não venha a ser atenuado tão cedo quanto se desejaria», conclui António Palha.

by Teresa Pires in Medicina & Saúde 05 Janeiro 2007

14/03/07

| sexualidades

As Sexualidades - no plural, pelos motivos que a seguir são abordados - têm uma base e um desenvolvimento biológicos, que quando completos geram uma diversidade de comportamentos e atitudes, que exigem um "controle" social, ao qual damos o nome de cultura.

As diversas formas de expressão cultural das sexualidades determinam crenças, valores e reacções em relação às mesmas. A própria Medicina já foi, e ainda é influenciada por factores culturais, na forma como ela lida com assuntos ligados à sexualidade. No que respeita ao tema, são abordados os seguintes tópicos:

- desenvolvimento biológico

- identidade sexual x orientação sexual

- fases do desempenho sexual e sexo "normal", "fantasias sexuais" e transtornos da sexualidade

desenvolvimento biológico

Após a fecundação, quando um espermatozóide encontra um óvulo, dá-se início ao processo de desenvolvimento embrionário geral e também o ligado ao sexo. Nesta etapa, estabelece-se o assim chamado sexo cromossómico, onde o óvulo contribui com um cromossoma X, e o espermatozóide com um cromossoma, ou X, ou Y.

Se a união for de um cromossoma X, com outro X, o desenvolvimento sexual dá-se no sentido de formar um embrião com características compatíveis com o sexo anatómico feminino; se for de um cromossoma X, com um Y, a possibilidade é a de se formar um embrião com características sexuais anatómicas masculinas.

A definição cromossómica sexual, é necessária, mas não é a única responsável pela definição anatómica do sexo. Para o pleno desenvolvimento do sexo pré-programado genética e cromossomicamente, interagem factores que se poderão chamar de hormonais, para a definição completa do aparelho sexual anatómico em feminino ou masculino. Com isto, teremos então, a definição de sexo gonadal, ou seja, não basta ter cromossomas XX, ou XY para a definição anatómica do sexo; também será necessária uma definição hormonal, que é dependente da libertação de factores humorais libertados no processo de diferenciação embrionária, para a condução de uma definição anatómica masculina ou feminina.

identidade sexual x orientação sexual

Nascida, ou mesmo antes de nascer, surge a expectativa dos pais em relação ao sexo da criança. Actualmente, com os avanços da ultrassonografia (ecografia), os pais têm a possibilidade de saber o sexo anatómico da criança meses antes do nascimento; assim, vai ser mais fácil decidir se o bebé se vai orientar para o clube de futebol do pai, do avô paterno, ou materno, ou se for uma menina vai ter uma boneca ou um ursinho na porta do quarto da maternidade. Esta expectativa não é nem boa, nem má, simplesmente define social e culturalmente um papel para o recém-nascido. Assim, esta criança, com o aparelho anatómico sexual definido - e também a questão jurídica, porque quando nascemos, somos registados com um nome e um sexo que nos define para o resto da vida, algo como uma "patente" que nos é transmitida - começamos a ter um relacionamento com o mundo que nos envolve, adoptando, e sendo incentivados a adoptar, ou simplesmente sendo obrigados a adoptar padrões de comportamento cultural e socialmente definidos como masculinos ou femininos, e portanto passamo-nos a identificar com eles, criando o que chamamos de identidade sexual, que nada mais é do que a capacidade que temos de nos definirmos como masculinos ou femininos, já que nos reconhecemos como homens ou mulheres. Este processo inicia-se na infância e prolonga-se até ao final da adolescência.

Com as mudanças comportamentais ocorridas nos nossos meios culturais e nas últimas décadas, determinados padrões tornaram-se mais subtis, mas mesmo assim continuam rígidos, principalmente se comparados com outros grupos humanos, onde a presença de um terceiro sexo, ou sexo indefinido é considerada. Portanto, é possível pessoas pertencentes a um determinado sexo anatómico, considerarem-se psicologicamente de outro sexo; por exemplo: um indivíduo considerado anatomicamente do sexo masculino (possuidor de pénis, testículos, vesícula seminal, etc., e com funcionamento normal), criado como homem, sentir-se e querer ser uma mulher; tais indivíduos, chamados de transsexuais, não obtêm prazer sexual com os órgãos anatómicos do sexo correspondente - o homem transsexual não vê no pénis um órgão sexual, nem tem prazer com ele: vê o pénis como um apêndice inútil; o mesmo se dá também com a mulher transsexual em relação à vagina. Estes são considerados casos de transtornos de identidade sexual.

Definido o grupo sexual ao qual pertencemos e nos identificamos, resta-nos definir o objecto ao qual vamos dirigir os nossos impulsos sexuais. O mais comum é dirigirmos nossos desejos sexuais para pessoas de um sexo anatómico diferente do nosso. Isto é o mais comum, mas não significa ser a única possibilidade. Desta forma, é possível termos todas as combinações possíveis de escolha: homem e mulher; homem e homem; mulher e mulher. A esta possibilidade de escolha de um ou uma parceira, damos o nome de orientação sexual, que pode ser: heterossexual, homossexual ou bissexual. A assexual não conta, pois não se caracteriza como uma orientação. Como foi referido, foi usado o termo orientação, e não opção; este segundo termo é erróneo e não deve ser utilizado, pois caracteriza uma definição consciente da escolha do parceiro sexual, e não é assim que na realidade as coisas são; a orientação sexual envolve mecanismos ainda não esclarecidos - biológicos, psicológicos ou sócio-culturais - mas não é um mecanismo dependente única e exclusivamente da vontade.

fases do desempenho sexual

Definidas as nossas identidades e orientações sexuais, só nos resta desempenhar a sexualidade. Para Freud, a nossa sexualidade desenvolve-se desde a infância, apresentando um período de latência, e com o advento da puberdade, e portanto das transformações físicas decorrentes, temos um novo fluxo de energia sexual. Após a puberdade e com o amadurecimento do aparelho reprodutor - nome isento de erotismo, para os órgãos sexuais - somos capazes de exercer uma sexualidade adulta. Nos seres humanos a sexualidade tem carácter reprodutivo e recreativo (eufemismo para descaracterizar a noção de prazer envolvendo a sexualidade), apesar de algumas religiões se mostrarem abertamente contra qualquer outra possibilidade que não a reprodutiva para a sexualidade. Desta forma, pensando em duas pessoas maduras biologicamente para o exercício da sexualidade, teremos o seguinte ciclo de resposta sexual:

- fase de desejo sexual

- fase de excitação sexual

- orgasmo

- fase de resolução

Estas fases caracterizam todo o acto sexual. A fase de desejo sexual corresponde ao início de qualquer actividade sexual, o interesse, ou vontade; é quando vamos à procura, porque termos interesse ou desejo sexual.

Já a fase de excitação corresponde ao início da actividade sexual propriamente dita, ou seja, quando se iniciam respostas fisiológicas do organismo - por exemplo: erecção no homem, e lubrificação vaginal na mulher - dando possibilidades aos dois para que o acto sexual continue. Nesta fase a excitação aumenta progressivamente - podendo ou não dar-se a penetração - até um clímax, ponto de não controle e não retorno, chamado orgasmo - que no homem geralmente é associado à emissão de esperma, ou ejaculação -, e que se caracteriza por um prazer intenso.

O orgasmo feminino envolve factores não só fisiológicos, mas também psicológicos; o orgasmo clitoriano é o mais comum e envolve uma estimulação por fricção e contacto com o clítoris; já o orgasmo vaginal é muito menos frequente e geralmente exige envolvimento físico da mulher com seu parceiro, exigindo da mesma estar tranquila em relação à sua sexualidade; antigamente pensou-se que o orgasmo vaginal era o desejado, e que mulheres que só tivessem orgasmo clitoriano eram imaturas sexualmente; actualmente se a mulher só consegue ter orgasmo clitoriano, mas de boa qualidade, será mais do que normal. O famoso ponto G, que poucos conhecem, ou já sentiram, seria uma região da parede anterior da vagina altamente sensível ao estímulo sexual e capaz de produzir um orgasmo extremamente potente. Outra dúvida frequente é sobre a ejaculação feminina, que não deve ser confundida com um excesso de lubrificação, e que ocorreria durante o orgasmo; algumas mulheres seriam capazes, na verdade, de, na hora do orgasmo, produzirem uma secreção abundante, que também não deve ser confundida com libertação de urina.

A fase de resolução é aquela na qual, após o orgasmo há um relaxamento muscular, acompanhado de sono, e onde a respiração e a frequência cardíaca, que na altura se elevaram durante o orgasmo, voltam para um nível de repouso, e onde há um período refractário para novas práticas sexuais.

questões acerca da sexualidade normal, fantasias sexuais e transtornos da sexualidade

A sexualidade normal é aquela na qual um indivíduo não apresenta problemas no seu ciclo de resposta sexual, tem prazer, consegue dar prazer e ter intimidade com seu parceiro. Faz parte da sexualidade normal determinados comportamentos considerados patológicos no passado, ou aqueles muitas vezes não compatíveis com determinadas posturas religiosas; por exemplo: a masturbação, hoje em dia considerada como uma forma segura de relação sexual.

outros fenómenos se podem incluir na assim chamada sexualidade normal:

fantasias sexuais:

Longe de serem consideradas patológicas, podem fazer parte de uma fase de excitação; as fantasias podem ser de carácter "voyeur", sádico, masoquista, ou outros; cabe diferenciar fantasia de um tipo específico de patologia sexual, chamada parafilia que é quando um indivíduo só consegue ter prazer sexual, durante um período de tempo prolongado, utilizando um recurso pouco usual que lhe cause sofrimento psíquico, ou que origine sofrimento a outra pessoa; como exemplos: sadismo, masoquismo, "voyeurismo", pedofilia e outros.

sexo em grupo:

Uma modalidade pouco ortodoxa, mas que de comum acordo entre as partes, nada tem de anormal.

homossexualidade:

Hoje em dia descaracterizada como patologia, a homossexualidade só pode ser considerada doentia quando o homossexual apresentar sofrimento psíquico por esta condição.

sexo oral:

Muito praticado, só que deve ser considerado uma forma de risco de se contrair doenças sexualmente transmissíveis, inclusive a SIDA; deve-se usar preservativo sempre durante sexo oral.

sexo anal:

Por séculos considerado pecado, ou heresia, é comum tanto entre heterossexuais, como entre homossexuais; é considerado de altíssimo risco para contrair SIDA; deve-se utilizar sempre preservativo.

todavia, alguns tipos de problemas sexuais são frequentes e considerados como patológicos:
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A disfunção eréctil (dificuldade em ter ou manter a erecção), a ejaculação precoce (quando o homem "goza", ou antes de penetrar, ou logo após), anorgasmia ou disfunção orgásmica (quando a mulher ou o homem não conseguem ter nenhum tipo de orgasmo), falta de desejo sexual, ou mesmo aversão sexual.

Alguns destes transtornos podem ter origem orgânica, ou psicológica, ou ambas; os tratamentos mais indicados variam desde medicações, psicoterápia, aconselhamento, ou exercícios.
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in Clino Távora 06 Fevereiro 2007

| afrodisíacos - verdade ou mentira?

Existe comida afrodisíaca? Não há uma resposta inequívoca a essa questão. Uma alimentação correcta ajuda, mas não se pode afirmar que os afrodisíacos sejam reais.

Na Grécia Antiga, os homens iam aos templos da deusa Afrodite pedir-lhe ajuda para voltarem a ter virilidade ou para prevenirem a sua perda. É essa a origem da palavra «afrodisíaco».

«não existe»

Os afrodisíacos não existem, dirá com convicção um homem da ciência. Porém, atendendo ao conceito comum, os chamados afrodisíacos surgem em abundância. Especificamente, observámos, não há muito tempo, no dia de S. Valentim, que alguns restaurantes dispunham de menus afrodisíacos, para casais mais ou menos apaixonados.
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sexo e alimentação

Estou certo que a actividade sexual saudável depende do bom estado físico do organismo, e que uma alimentação correcta é fundamental. Por outro lado, os nossos sentidos são sensíveis a inúmeros estímulos. A comida não foge a essa regra e, na verdade, um prato bem apresentado, um acepipe raro, fumegante e com um odor agradável faz crescer água na boca. A sua decoração recorre muitas vezes a representações de símbolos ligados ao sexo, o que pode despertar, nalgumas pessoas, o aumento das sensações sexuais. Comer é um prazer e isso poderá criar um clima propício ao prazer sexual.

mitos vs realidade
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O enlace final entre a comida e o sexo aparece no facto de usarmos nomes de alimentos (melões, pepinos, tomates, pêssegos) para designar zonas sexuais do corpo. Também o recurso ao verbo «comer» pode simbolizar a interacção sexual. Na verdade, quase todos os alimentos já foram de alguma maneira considerados afrodisíacos. Muitas vezes porque o seu valor calórico imita as sensações de uma excitação sexual. Outras vezes, porque têm semelhanças com o corpo ou com os órgãos sexuais. Creio que é daí que vem a popularidade das ostras, dos ovos de tartaruga ou dos órgãos genitais de vários animais como afrodisíacos.

o poder da mente

São inúmeros os afrodisíacos ligados à melhoria do desejo sexual, à excitação e ao orgasmo. Algumas drogas têm, inicialmente, um efeito de descontracção e até positivo na função sexual. O vinho é o exemplo que se perde na noite dos tempos, mas as drogas modernas também são conotadas como afrodisíacos. Contudo, a sua utilização acarreta altos riscos de dependência e, sobretudo, efeitos negativos para o corpo, culminando numa previsível incapacidade sexual. Provavelmente, os melhores afrodisíacos estão na nossa mente. Basta que a usemos para tornar um encontro amoroso um momento inesquecível.

by Dr. José Pacheco (Sexólogo) in Saúde Semanário 06 Fevereiro 2007

| medicamentos prejudicam vida sexual feminina

Como consequência imediata dos recentes acontecimentos na Sexologia, nomeadamente, a introdução de químicos na disfunção sexual masculina, surgiram efeitos secundários extremamente importantes para a sexualidade feminina. Perceba quais e porquê?

Todas as tentativas de resolução dos problemas do foro sexual de um dos membros do casal acabam por ter efeitos no outro elemento desse mesmo casal. Nesse sentido, a evolução farmacológica que permitiu a introdução de medicamentos para o tratamento da disfunção sexual masculina, especialmente na disfunção eréctil, trouxe um conjunto de outros problemas relacionados com a sexualidade feminina. «Assistimos imediatamente a uma hipertrofia da prevalência das disfunções sexuais, que quase parece uma epidemia de dimensões avassaladoras nas mulheres. Além disso, a minimização dos factores de ordem social e cultural no enquadramento da sexualidade também dificultam o bem-estar sexual», refere a Prof.ª Catarina Soares, médica psiquiatra e sexóloga do Hospital de Júlio de Matos. Todas as questões que se referem ao tratamento da disfunção eréctil parecem ter uma implicação evidente na sexualidade da mulher. Por exemplo, «a utilização de vasodila­tadores locais aplicados nos casos de impotência potenciam os desequilíbrios de âmbito inter-relacional: é que é previsível que o pénis esteja sempre pronto para o acto sexual. Induzido por essa medicação, poderá ser pouco compatível com o dilema de uma mulher inserida numa relação previamente disfuncional e que poderá já incluir alterações vaginais como a vagina atrófica», relaciona a especialista. Por isso, em todas as idades, é importante o enquadramento da parceira no tratamento das disfunções sexuais masculinas, independentemente da opção de tratamento ser química, cirúrgica ou farmacológica. «Mais importante ainda nos parece a inclusão da mulher nessa perspectiva terapêutica, uma vez que ela se encontra, muitas vezes, numa fase da vida em que pode apresentar dificuldades que, se forem negligenciadas no contexto tera­pêutico, poderão causar-lhe sofrimento e, consequentemente, implicar a não resolução do problema do homem no contexto daquela relação», admite Catarina Soares. O «efeito secundário» mais espectacular a que assistimos nos últimos tempos, motivado pela introdução de vasodilatadores nas disfunções masculinas, é que, subitamente, a sexualidade feminina adquiriu um enorme fascínio científico que até então não existia.

ansiedade: impulsiona ou perturba?

As relações entre a ansiedade e a sexualidade não são e nunca foram simples. «Sabemos que a ansiedade produz efeitos de tal modo importantes na resposta sexual que pode determinar a rapidez da ejaculação, assim como processos cognitivos que, de outro modo, poderiam ser facilitadores da resposta sexual aos estímulos eróticos. Por isso, a ansiedade e a inibição coexistem, sendo ambas reactivas à percepção de uma ameaça», explica a médica. As respostas sexuais poderão ser inibidas exactamente como uma forma de evitar a ansiedade. Por outro lado, a ansiedade ocorre como uma resposta a uma relação sexual falhada, podendo facilitar ou prejudicar a resposta sexual.
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«Na nossa prática clínica, e no que diz respeito à unissexualidade, verificamos uma disparidade acentuada: os homens referem essencialmente deficiências na sua resposta mecânica, isto é, as suas queixas são objectivas, nomeadamente, no que se refere à ejaculação ou à erecção; as mulheres, pelo contrário, focam essencialmente queixas subjec­tivas, ou seja, dificuldades relacionadas com o seu desejo, com o seu interesse, com a necessidade de incentivo sexual e relacional», refere Catarina Soares. Efectivamente, tanto na sexualidade feminina como na masculina, existe um padrão vivencial que permanece ao longo da vida. Há um maior grau de variabilidade individual entre as mulheres do que entre os homens. O sexo masculino apresenta uma resposta sexual mais uniformizada e padronizada e é relativamente simples interligar as hormonas e a resposta sexual. No sexo feminino, as coisas são mais complexas e, nesse caso, há uma menor associação entre o orgasmo feminino e o sexo reprodutor e, aparentemente, haverá uma maior susceptibilidade feminina em relação à repressão social da sexualidade. «Há um autor especialista nestas matérias que defende que haverá, nos próximos anos, uma maior propensão para a inibição da resposta sexual. As mulheres em todas as faixas etárias, com ou sem parceiro, têm menos desejo sexual que os homens. No que diz respeito às práticas masturbatórias, 3% das mulheres dizem masturbar-se, enquanto 26% dos homens referem essa prática e isto mostra dife­renças significativas», observa a sexóloga. Este estudo conclui, ainda, que há uma correlação muito maior entre as disfunções sexuais femininas e a ausência de amor pelo parceiro. Uma mulher que não sente amor pelo parceiro dificilmente conseguirá a mesma satisfação sexual que outra mais apaixonada. «O factor amor parece ser muito menos importante para os homens. No entanto, há uma maior correlação entre os pro­blemas sexuais femininos e a instabilidade na relação, a emotividade global e o desfavorecimento económico. Globalmente, as mulheres em todas as faixas etárias referem a sexualidade como menos importante para o seu bem-estar global e a sua qualidade de vida. Estas diferenças acentuam-se após os 60 anos», defende a nossa entrevistada. Assim sendo, as mulheres que, contrariamente ao grupo que apontámos anteriormente, consideram a sua satisfação sexual um factor importante para o seu bem-estar, admitem que haverá um determinante físico na manutenção da sexualidade feminina que é o efeito desencadeador da atracção que o parceiro exerce sobre elas ou o próprio desejo que sentem por ele. Conclui-se, pois, que na ausência destes desencadeadores, o desejo sexual feminino diminui. Deste modo, percebemos que «uma maior variabilidade dos factores psicossexuais levarão à inibição ou res­trição da resposta sexual feminina. Clinicamente, as mulheres focam mais os aspectos subjectivos enquanto os homens fazem-no relativamente a questões mais objectivas. Na mulher há uma discrepância acentuada entre a avaliação subjectiva da sua excitação e a correspondente resposta vaginal», analisa a especialista.

novidades científicas

Foi precisamente no âmbito da aplicação de vasodilatadores nas disfunções sexuais masculinas que os cientistas começaram a estudar as mesmas hipóteses de aplicação medicamentosa para tratar as disfunções sexuais da mulher. A terapia sexual terá de debruçar-se sobre a interface da sexualidade, ou seja, o contexto que relaciona os factores psicológicos associados à vivência pessoal. «O desenvolvimento de estudos nestas áreas só será positivo se contribuir para o avanço do conhecimento e se a ânsia mercantil não se sobrepuser às necessidades de melhor conhecer os factores sociais, psicológicos da resposta sexual feminina. É importante que se estude também a relação entre a Sexologia e a cultura na influência que têm na sexualidade humana», advoga a médica. Apesar dos avanços, continuamos a ter uma visão muito incompleta da condição da sexualidade humana, porque o sexo foi sempre um ecrã privilegiado em que se projectavam ideologias, conceitos, medos, sonhos e paranóias.

sabia que...

O clítoris é o único órgão que não consta nos desenhos do corpo humano efectuados nos manuais escolares. Porque será?

by Nilza Mouzinho de Sena in Medicina & Saúde 13 Janeiro 2007

12/03/07

| os sexos de ângela










Educadas como meninas, na adolescência nasce-lhes barba, a voz fica mais grave e desponta um pequeno pénis. Outros são registados como rapazes, mas nascem com útero e ovários. Chamam-lhes intersexos e agora já beneficiam de cirurgias correctivas. Há umas décadas eram todos transformados em raparigas.
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by Valdemar Cruz in Expresso 10 Março 2007 ÚNICA